Contas II
Metam mas é o desvião padrão dos vossos dados estatísticos pela peida adentro.
A minha matemática não é brilhante, mas para formular as contas que se seguem é suficiente, embora tenha que se ter em conta que não são contas precisas e como é óbvio, as despesas são sempre subjectivas. Irá fazer-se com base num caso, dito, normal.
A média dos ordenados em Portugal é de 800 € (líquidos). Se a média é de 800 € com tantos gestores parvos a ganharem fortunas e dirigentes públicos a ganharem 3500 €, muitas pessoas ganham entre o salário mínimo e 600 €. Para ser o mais correcto possível, um quinto dos trabalhadores activos ganha o salário mínimo e quase metade entre o salário mínimo e os 650 €. Mas para não me acusarem de populista, irei fazer as contas com os 800 € .
Um casal de namorados – cada um a receber 800 € – de Lisboa resolve ir viver junto. Tentam ver as opções mais acessíveis e pensam em alugar uma casa. Ficam assustados ao verificar que – sempre em Lisboa – não conseguem alugar um T2 por menos de 500 €. Se a localização for acessível em termos de tranportes, com particular incidência para o metropolitano, não o conseguem por menos de 600 €. Ou optam por uma zona ranhosa sem condições ou então têm de pagar esse valor. “Mas que um jovem casal precisa de um T2?” pergunta aquele que gosta de chagar os cornos a um gajo. “Um T1 é suficiente, isso é viver à grande e à francesa, têm a mania…” Cale-se e coma a sopa senão leva uma bolachada e não o deixo ver a Fátima Lopes. Para começar, num T1 falta espaço!! Um quarto a mais é rentabilizado por causa dos vários objectos, desde roupa, livros, computador e coisas que transitam da antiga casa. E depois porque um T1 numa zona mais ou menos chega aos 400 €. Sim, 400 €!!! O aluguer torna-se complicado, por esse preço mais vale investir numa casa, ao menos será do casal passados 130 anos (que é o tempo médio de duração dos empréstimos). O mesmo T2 em Lisboa fica excessivamente caro, mas com sorte consegue-se por menos de 150 mil €. Não sei a quanto estão as taxas de juro, com a instabilidade dos últimos tempos a prestação no final do mês pode variar entre quase 150 €, o que é bom. Para famílias que têm o dinheiro à justa para as despesas é bom. Por norma, a solução é estender o prazo do empréstimo até à 7 geração da família. Mas, numa situação comum, para pagar o empréstimo da casa será necessário um salário na totalidade. Fica o outro salário. Água, electricidade e gás representam, coisa menos coisa, 100 €. Restam 700 €. Transportes, se tiverem de pagar o passe normal, totalizam os dois pouco mais de 50 €. Restam 650 €. Almoços? É sempre subjectivo. Almoçam no emprego levando comida de casa ou têm de almoçar fora? Façamos um de cada. Por menos de 150 € não fica. Restam 400 €. Resto da alimentação e produtos para a casa. No mínimo dos mínimos, com carne, peixe, vegetais, leite, iogurtes, cereais, umas bolachas shampoos, detergentes, esse tipo de coisas e tudo o que envolve a manutenção da casa 350 €. Restam 150 €. Posso estar a esquecer-me de alguma coisa, mas este casal fica com 150 € por mês.
Como isto é possível? Assim, como é que este casal vive? A contar os tostões, a fazer contas à vida. A pensar em como seria porreiro poder comprar uma peça de roupa ou calçado sem ter de pensar se há dinheiro, em ter um carro (um carro de gama média-baixa custa 15 000 € e a mensalidade seria 300 €, fora seguros manutenção e combustível, quem é que pode?), em fazer uma viagem, a comprar livros.
800 €
+ 800 €
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1600 €
Empréstimo casa – 800 € (restam 800 €)
Água, electricidade, gás – 100 € (restam 700 €)
Transportes - 50 € (restam 650 €)
Almoços – 150 € (restam 500 €)
Alimentação e casa – 350 € (restam 150 €)
Como é que isto é possível? Como é que querem que uma pessoa se governe assim?
Notícias revelaram que Sócrates fumou no avião que o levava para a Venezuela, ao qual ele confessou corresponder à verdade. Acho que ninguém quer saber se ele fuma ou não. Para a maior parte dos portugueses, até querem que ele fume 20 maços por dia de forma a morrer de forma lenta.
O relevante é questionar o porquê de ele enquanto primeiro-ministro aplicar uma lei que proíbe fumar em certos espaços e ele num acto de total despotismo desrespeita essa mesma lei. Ainda por cima num local onde é perigoso fazê-lo.
Este episódio, revela a natureza da sua pessoa, gosta de impor aos outros mas não cumpre. E a isto chama-se um “ditadorzeco”.