domingo, junho 29, 2008

No tempo do senhor mau

Ao comentar um discurso do PR – o do alertar à discrepância de salários entre donos/gestores e empregados – um membro do PCP disse que esta situação tem aumentado consideravelmente nos últimos 30 anos. 30 anos disse você? Desculpe, disse 30 anos? Então e no tempo antes, não? Não era pior com o senhor mau? Então antes do 25 de Abril (25 de Abril ou “caminho da felicidade” como gostam de falar) as coisas não eram piores? Não se vivia pior por causa do regime dos senhores maus? Porque o senhor que é do PC e, de forma geral toda a esquerda, que está constantemente a diabolizar o regime não falou do tempo antes? Não se vivia pior?
O senhor não o disse porque se o tivesse feito estaria a mentir!

Quando se vêm os dados também não se quer acreditar mas, afinal, antigamente, e sempre comparando com o hoje, não era assim tão mau. Com a lavagem ao cérebro que se faz em Portugal falando somente dos aspectos negativos do Novo Regime até se tem alguma dificuldade em acreditar em alguns factos, como os seguintes.
Observando as diferenças de PIB de Portugal com a restante Europa comunitária (dos 15) a distância é agora maior que nos anos 60!!! O ritmo de crescimento económico de Portugal foi durante essa década superior à europeia, chegando em alguns anos a ser 3 vezes mais. Incrível, não é? E não se pode esquecer que Portugal tinha das maiores reservas de ouro do mundo, podendo não se acreditar mas superior à super reserva dos EUA.
Dizem que à custa disso o Povo passou fome. E hoje? Temos oficialmente confirmados 2 milhões de portugueses na miséria e uma classe média cada vez mais empobrecida e a chegar ao limiar (mais de metade dos portugueses só tem dinheiro para pagar as despesas inerentes à habitação e para alguns víveres) de uma situação insustentável. E quem afirma o oposto deve ter o cu cheio ou viver no país das maravilhas.
Dizem que Portugal após 74 desenvolveu-se. Aí o ouro foi quase todo à vida. Portugal desenvolveu-se mas só a partir do dinheiro europeu, mas mesmo assim a um ritmo bem inferior ao anterior registado e sem criar bases para o futuro com uma corrupção galopante e mesmo com milhões e milhões o ritmo é inferior aos anos 60.
E a diferença entre ricos e pobres, apesar de ser um dos grandes problemas da altura hoje é algo digno de um país do terceiro mundo. Somos o país da EU com maiores diferenças sociais. E ainda existe quem negue isto?
“Existem nuances como as colónias ultra-marinas e Portugal perdeu dinheiro com a sua independência”. Muitas pessoas declaram isto em defesa do tal crescimento económico superior à EU. Sim, é totalmente verdade, mas não esquecer que Portugal com meia dúzia de habitantes esteve numa guerra colonial num território do tamanho da Europa, em regiões afastadas entre si, e lutando contra EUA, URSS e Cuba simultaneamente e mesmo assim, exceptuando a Guiné, estava a safar-se. Isto mantendo crescimento económico!!!
A nível económico e dadas as circunstâncias, Portugal teve um bom desempenho, o regime desde cedo consolidou as finanças embora fosse o próprio regime a impedir que este prosperasse ainda mais sufocando a indústria e rejeitando melhores condições de vida à sua população levando-o à sua própria extinção. O “senhor mau” teve oportunidades de criar um país desenvolvido, a sua própria limitação foi a limitação de um país, gorando-se excelentes oportunidades para um país melhor a nível económico e democrático. Não teve visão e preferiu um povo pobre e submisso à sua governação.

Como em tudo na vida há coisas boas e coisas más. Agora vir com as constantes lavagens cerebrais é que não! Há que informar sem pudores e de forma transparente. Não há que ter medo. Caso contrário, formam-se pessoas com mentes captas, sem espírito crítico. Alguns partidos assim o desejam, mas então está a ressuscitar-se o pior do antigo/novo regime.

E a propósito dos altos salários, quem era da elite vivia bem, os empresários ostentavam luxo e o povo vivia mal (como em todos os períodos históricos), mas uma das grandes diferenças, que apesar de simbólica é significativa, o Presidente do Conselho morreu da forma que sempre defendeu e viveu: humilde e sem riqueza. Obrigou o povo a viver daquela forma mas ele não fugiu do que tutelava (por pensar que estava numa missão divina, a moral, por querer demonstrar algo, as razões ficam para sempre com a personagem) e hoje, nenhum dirigente (da direita à esquerda) pode dizer o mesmo! Vivem em mordemias obscenas e gozam dizendo que são do povo ou que o compreendem, pedem sacrifícios para depois viverem como príncipes. E isto faz diferença, uma grande diferença…